O conceito de uma comunidade que existe em grande grupo e em pequenos grupos não é algo novo. Na verdade as Sagradas Escrituras trazem narrativas importante para compreendermos o Pequeno Grupo, suas diversas funções e seu lugar na vida da igreja.

Talvez o primeiro texto das Escrituras nos quais um grande grupo se divide intencionalmente em grupos menores por motivos estratégicos seja o “Caso Jetro”. Essa narrativa está registrada em Êxodo 18 e é certamente a passagem mais citada do Antigo Testamento quando se trata de pequenos grupos.

Esta narrativa nos conta que Jetro, sogro de Moisés, veio visitar seu genro após a saída miraculosa do Egito e a passagem pelo mar. Após os eventos que libertaram Israel do cativeiro egípcio, Moisés se tornou de fato o líder daquela nação e dentre seus encargos dois se tornaram os principais: instruir o povo acerca da lei de Deus e julgar as causas que surgiam no meio do povo.

Jetro viu que Moisés estava sobrecarregado e o povo estava sendo penalizado por essa excessiva centralização. Então Jetro aconselhou Moisés a descentralizar o poder judicial que estava em suas mãos escolhendo homens que liderassem dez, cinquenta, cem e mil pessoas, formando várias instâncias.

Comentando essa decisão estratégica, Chiavenato afirma que por meio dela Israel deu um salto administrativo e adquiriu uma clara e definida estrutura hierárquica. De fato, na perspectiva de Jetro haveria menos causas chegando a Moisés e o mesmo poderia ser mais intensamente a seu papel como profeta para a nação (v.19,20).

Um elemento essencial nesta narrativa é que Jetro deixa claro a Moisés que esse sistema piramidal de delegação só funcionaria se houvesse integridade ética na vida dos líderes escolhidos. Caso contrário, a delegação não funcionaria e o projeto seria um desastre. Os líderes deveriam ser capazes, ou seja, capacidade de realizar julgamentos nos casos que lhes seriam trazidos. Os líderes deveriam ser pessoas tementes a Deus.

Os líderes deveriam ser homens confiáveis. Os líderes deveriam ser financeiramente incorruptíveis. Capacidade, espiritualidade e caráter (“caráter” sintetiza a confiabilidade e a incorruptibilidade necessárias ao líder). A partir do caso Jetro podemos compreender alguns aspectos importantes do Pequeno Grupo. Primeiro, o pequeno grupo ocupa um lugar estratégico na vida das comunidades, pois possibilita atender a demandas que não seriam atendidas se não houvesse vários líderes compartilhando as responsabilidades e gerar oportunidades valiosas de treinamento de novos líderes e do uso dos dons.

Segundo, um fator crítico para o pequeno grupo é a sua concepção estrutural, ou seja, como o mesmo será organizado em sua estruturação. Terceiro, outro fator crítico para o pequeno grupo são os líderes. Kornfield chega a dizer que 50% do sucesso do pequeno grupo depende do processo de seleção dos líderes. A seleção, capacitação e contínuo acompanhamento dos líderes de pequenos grupos dentro da estrutura dos mesmos é talvez um dos aspectos mais enfatizados pelos teóricos e práticos de pequenos grupos.

Texto extraído do Curso “Fundamentos dos Pequenos Grupos”
Por Rodrigo Ferreira