Se no Antigo Testamento o texto mais marcante a respeito de um grupo grande que se articula em pequenos grupos é a narrativa do conselho de Jetro, no Novo Testamento não poderíamos deixar de nos maravilhar com a maneira como Jesus utilizou o conceito de pequeno grupo de maneira central no seu ministério. Intuitivamente, poderíamos esperar que logo após ser batizado e publicar seu ministério, Jesus procuraria impactar o maior número de pessoas por meio de demonstrações públicas de poder e ensino em massa.

Assim, ele poderia alcançar o maior número de pessoas no menor tempo possível e aumentar seu impacto. Correto? Errado. Jesus sabia que sua missão não era somente tornar populares seus conceitos e ensinos, mas era expandir o Reino de Deus e a única maneira de fazer isso seria gerar sua própria vida em seus seguidores.

Por isso Jesus escolheu o discipulado como a metáfora dominante de seu ministério. Jesus poderia chamar aqueles que o seguiam de soldados, liderados, servos e até mesmo fiéis. Contudo, Jesus preferiu chamá-los de aprendizes. Como Dallas Willard destaca em seu excelente livro “Conspiração Divina”,  ser discípulo é ser um aluno, um aprendiz prático e não um mero expectador.

Na antiguidade não havia escolas formais como hoje e o conhecimento era passado através de um vínculo de aprendizado entre o professor e o aluno onde a sala de aula era o mundo e o conteúdo da matéria era a própria vida. Jesus fez discípulos e durante seu tempo de caminhada com esses homens o Senhor lhes ensinou mais do que informações a respeito do Reino de Deus: ele os ensinou a serem a própria presença do Reino de Deus.

Ser um discípulo de Jesus é ser transformado para pensar, sentir e agir da maneira que o próprio Senhor pensa, sente e age, de tal maneira que a minha vida seja a presença do Reino de Deus entre as pessoas que estão à minha volta. C.S Lewis expressa isso de maneira fantástica: “O verdadeiro Filho de Deus está ao seu lado. Ele está começando a transformar você em algo semelhante a ele.

Está começando, por assim dizer, a “injetar” seu tipo de vida e pensamento, sua zoé, em você; está começando a transformar o soldadinho de chumbo num homem vivo. A parte de você que não gosta disso é a parte que ainda é feita de chumbo”.

E como Jesus tornou seu discipulado efetivo e transformador? Jesus utilizou o modelo de pequenos grupos. Jesus chamou intencionalmente pessoas para aprender a viver como cidadãos do Reino (Mt 4.18-20) e mais tarde, quando um grande número de pessoas o seguia, Jesus concentrou suas atenções, ensino e relacionamento em doze homens, os apóstolos (Mt 10.1-4).

Jesus utilizou o pequeno grupo como elemento transformador da vida daquelas pessoas por meio de um relacionamento íntimo, ensino aplicada as suas necessidades e contextualizado a sua linguagem e compreensão. Eles não possuíam uma mera relação de aprendizado com Jesus, mas eram seus amigos (Jo 15.11-15), eram a sua família (Mt 12.46-50).

Jesus nos ensina que por meio dos relacionamentos íntimos do pequeno grupo as pessoas aprendem a viver como cidadãos do Reino, sendo uma estratégia efetiva para o discipulado, amadurecimento e apoio mútuo. Neste aspecto o pequeno grupo é tanto um ambiente no qual há um compartilhamento da liderança por meio da delegação e descentralização (Jetro), quanto há um meio que possibilita relacionamentos mais francos, íntimos, amorosos e transformadores. Veremos na sequência como a igreja primitiva lançou mão desse modelo.

Texto extraído do curso Fundamentos dos Pequenos Grupos
Por Rodrigo Ferreira