As igrejas geralmente enfrentam crises devido ao fato de que há uma falta de clareza a respeito da razão de existir de alguns ministérios e trabalhos desenvolvidos na vida da comunidade.

Muitas vezes os líderes adotam determinados modelos e métodos embalados pela moda do que está dando certo no momento e isso pode incluir até mesmo os pequenos grupos. John Atkinson toca neste ponto específico ao afirmar: “Penso que um dos maiores problemas que eu vejo com ministérios de pequenos grupos que falham é que não há uma visão. Não há resposta para a questão “Por que temos pequenos grupos?”. Um grande número de ministérios de pequenos grupos existem por que as igrejas pensam “Bem, nós supostamente devemos ter pequenos grupos”. Logo, devemos ser capazes de responder a questão: “Por que Pequenos Grupos existem? Qual sua finalidade?”.

Ao responder esta pergunta moldamos uma visão para os pequenos grupos. Uma breve consulta na literatura sobre liderança cristã vai nos abrir os olhos para uma série de termos que parecem ser diferentes mas apontam para a mesma realidade: visão, visão teológica, filosofia de ministério, missão, propósito, entre outros, são termos que apontam para uma direção muito semelhante.

A visão é algo mais prático do que uma definição teológica e é algo menos pragmático do que um programa de metas e objetivos, de maneira a formar uma ponte entre a teologia e a prática, uma espécie de middleware, nas palavras de Tim Keller. Donahue nos lembra que “a visão é o retrato do futuro preferível – o que você quer se tornar. Ela deve ser inspiradora e estimular a ação, algo em torno do qual seu grupo deve se unir”.

Uma visão para pequenos grupos deve emergir das Escrituras e explicar de maneira clara e objetiva qual a razão de ser do pequeno grupo, por que as pessoas deveriam participar dele, qual a missão do pequeno grupo e como faremos para cumpri-la. A articulação da visão deve ir então das Escrituras para um modelo, para uma aplicação na vida da igreja. O Criador nos criou como seres de relacionamentos e nos entregou quatro relacionamentos perfeitos: nossa relação com o Eterno, nossa relação conosco mesmos, nossa relação com o outro e nossa relação com o meio. Mas a queda acabou corrompendo essas relações, ou seja, “houve uma [desconexão] em quatro aspectos da vida do ser humano. O homem se [desconectou] de Deus, dos seus semelhantes, da natureza e de si mesmo”.

Mas em Cristo fomos reconectados ao Pai, ao outro, a nós mesmos e ao meio. Enquanto o encontro de grande grupo enfatiza a adoração e o ensino, o pequeno grupo é uma estrutura complementar que possui os mesmos elementos do grande grupo, contudo sua ênfase está na comunhão entre os cristãos, no relacionamento com o outro. Podemos articular uma visão de pequenos grupos da seguinte maneira:

O pequeno grupo é um grupo de 8 a 12 pessoas que se encontra semanalmente com ênfase nos relacionamentos em um ambiente informal no qual adoramos o Eterno, compartilhamos sobre a sua Palavra e sobre a nossa vida, cuidamos uns dos outros, desenvolvemos e utilizamos nossos dons, oramos uns pelos outros, compartilhamos o Evangelho com os de fora (evangelismo), desenvolvemos amizades e crescemos juntos como discípulos. 

A visão deixa claro que o foco do pequeno grupo está nos relacionamentos: nosso relacionamento com Deus e com o outro (seja cristão ou não). O objetivo do PG é conectar: conectarmos com Deus, conectar com o outro e conectar pessoas ao Evangelho através do evangelismo por meio de relacionamentos. Obviamente o molde do PG coloca uma grande ênfase na comunhão, de maneira que tudo que o pequeno grupo faz, de estudar a Bíblia a evangelizar, é feito por meio dos relacionamentos interpessoais. 

Valores como compartilhar/ouvir, cuidar, aceitar e amar devem ser vividos intensamente para que o grupo alcance seus objetivos. Logo, definir e esclarecer os objetivos do pequeno grupo é um dos itens importantes da visão. Bill Donahue ressalta que os “Pequenos Grupos não são um ministério opcional na igreja – é a própria igreja acontecendo em unidades menores”.

Isso implica dizer que o Pequeno Grupo é a igreja, mas devido ao fato de acontecer em uma escala menor possibilita uma série de interações e dinâmicas que seriam impossíveis no Grande Grupo. A questão é compreender que o Pequeno Grupo não deve ser visto como um tipo de ministério específico da igreja, mas como a igreja em um contexto diferente. 

Extraído do Curso Fundamentos dos Pequenos Grupos